Por Jair Gouvea
Assusta-me o fato de que a nossa sociedade não sabe lidar com a riqueza. Perpetua e replica a pobreza quase que inconscientemente. Rejeita a prosperidade com ilusões de outra riqueza, material, que é só meia riqueza, frágil e falsa quando sozinha. E como se não bastasse, edificam e constroem sobre ela. Nossos estranhos valores sobre a concepção de riqueza se desenham no próprio planejamento e ambientação das cidades, e em como elas se apresentam a nós. Um exemplo disso são os rios.
Qualquer cultura humana sabe (ou sabia) que a água é sua fonte de riqueza primordial, de onde vêm todas as outras. As sociedades e as cidades foram cunhadas no entorno de fontes de água. A qualquer época e em qualquer tempo, um grupo que sai em expedição para fixar moradia sabe, e sempre soube que é próximo ao rio e à água que deve se instalar.
Em Itápolis, não foi diferente. O córrego Boa Vista foi um vetor de crescimento, ocupação e urbanização. Um vetor de riqueza. Só que hoje ele esta espremido entre construções, sejam elas moradias ou comércio. Quando em dias normais ele é tranqüilo, mas quando vem á chuva ele transborda e sufocado por tanta água ele invade as construções outrora edificadas sem nenhum critério. Lembremos que, quando foram construídos tais edifícios ele já estava ali.
Nas culturas com maior conexão com a natureza, o rio é um presente. A fonte máxima de prosperidade, e garantia de vida e estabilidade. Mas, veja só, o rio ainda é sinônimo de riqueza hoje, pois traz em si embutido as palavras: subsistência, lazer, clima, e inevitavelmente, riqueza, em todos os seus sentidos. Mas nós não vemos nenhuma dessas palavras, no se refere a este e aos córregos que cortam a cidade.
Vejo que já passou da hora da nossa cidade se dar conta de pelo menos tratar melhor esses córregos. A Prefeitura fazendo sua parte limando e cuidando e o povo, evitando jogar lixo no leito destes córregos.